Protocolo de Manchester: tire aqui todas as suas dúvidas

21 de setembro de 2016

Os sistemas de triagem são uma evolução recente na história da medicina. A prática foi introduzida durante as guerras napoleônicas, no fim do século 18, como forma de otimizar o atendimento aos feridos nos campos de batalha, conforme consta  no livro “Emergency Triage Education Kit”, publicado pelo governo australiano. O nome triagem vem do francês “trier”, que significa separar, e o método consiste em estabelecer escalas de urgência para o atendimento por meio de critérios clínicos, ao invés de basear o funcionamento do hospital ou clínica em processos burocráticos ou administrativos. A partir desse princípio, foram criados vários sistemas de triagem e um dos mais utilizados hoje é o Protocolo de Manchester.

Ele recebeu este nome porque foi criado na cidade de Manchester, na Inglaterra, em 1997. Hoje ele é aplicado em vários países, como Espanha, Holanda, Alemanha, Suécia e o Brasil. O primeiro estado a implantar o Protocolo de Manchester no Sistema Único de Saúde foi Minas Gerais, em março de 2011. Curitiba, São Bernardo e São Paulo também fazem uso do sistema.

Muitos hospitais e clínicas o utilizam de forma integral para melhorar processos, agilizar o atendimento, garantir que os casos mais graves sejam atendidos com prioridade e lidar de forma eficiente com a superlotação ou a alta demanda. O protocolo utiliza pulseiras coloridas de identificação para estabelecer a ordem de atendimento dos pacientes da sala de espera. Confira como funciona o protocolo de Manchester e as vantagens de adotá-lo:

Como funciona?

O Protocolo de Manchester ou Manchester Triage Scale (MTS), em inglês, foi desenvolvido por duas instituições:

  • Royal College of Nursing Accident and Emergency Association, o setor de Emergência e Acidentes da Faculdade Real de Enfermagem; e
  • British Association for Accident – Associação Britânica para Acidentes, em tradução literal

Essas instituições desenvolveram o algoritmo do protocolo, que é baseado em 52 fluxogramas que registram a queixa apresentada pelo paciente e reúnem informações para avaliar o risco de vida do paciente, nível de dor, hemorragia, nível de consciência, temperatura, sinais vitais e sintomas em geral. Esses fluxogramas poupam tempo dos atendentes ao simplificar a documentação que precisa ser preenchida.

Ao chegar ao hospital ou clínica médica, o paciente é avaliado por um enfermeiro que coleta os dados, analisa sinais vitais e glicemia, entre outros. Há muitos artigos sobre a aplicação e a validade do Protocolo de Manchester para identificar a gravidade dos casos. O ideal é que a avaliação seja breve, alguns autores estimam que o tempo ideal de triagem por paciente é de cerca de 2 minutos.

Após essa breve avaliação, o paciente será enquadrado em uma das seguintes categorias:

  • Pulseira Vermelha – emergência: o paciente deve ser atendido imediatamente.

Os pacientes enquadrados nessa categoria geralmente apresentam um quadro que caracteriza risco de vida, como traumas, lesões graves de um ou múltiplos sistemas.

  • Pulseira Laranja – muito urgente: o paciente deve ser atendido o mais rápido possível.

Um paciente que recebe a pulseira laranja deve ser atendido em, no máximo, 10 minutos. Os quadros que devem receber a pulseira laranja são, por exemplo, os de pacientes que sofreram um infarto, queimaduras em grande porcentagem do corpo, hemorragia grave ou crise asmática severa.

  • Pulseira Amarela – urgente: o paciente precisa ser atendido em breve, mas tem condições de aguardar.

Um paciente com pulseira amarela deve ser atendido em, no máximo, 60 minutos. Casos que recebem essa classificação são, por exemplo, casos de traumatismos, desidratação, vômito persistente e pequenas hemorragias.

  • Pulseira Verde – pouco urgente: casos de pouca gravidade, podem ser resolvidos com tratamento ambulatorial.

O paciente com pulseira verde pode esperar 120 minutos para receber atendimento. Alguns dos sintomas que caracterizam essa avaliação são febre, vômito, dor leve e diarreia.

  • Pulseira Azul – não urgente: pacientes que devem ser tratados ambulatorialmente.

Nesta categoria o paciente pode esperar atendimento por até 240 minutos. São casos de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, feridas que necessitam curativos, etc.

Dependendo da lotação da unidade, pacientes com pulseiras verde e azul são candidatos a serem transferidos para outros hospitais e clínicas para atendimento. Havendo pouco movimento e equipe livre, os pacientes podem e devem ser atendidos antes do tempo previsto.

Após a triagem, o paciente irá esperar o atendimento médico. Uma das formas de aplicação do Protocolo de Manchester define que, após a avaliação do enfermeiro, o paciente será avaliado também por um profissional com curso superior, como um enfermeiro-chefe ou um médico. Essa segunda avaliação corrobora ou não a avaliação do enfermeiro: é uma precaução para quadros clínicos que podem apresentar maior dificuldade de diagnóstico, como acidente vascular cerebral ou infarto.  É também uma forma de evitar que esses quadros sejam subestimados.

Perfil para triagem

É importante que o profissional designado para fazer as avaliações e decidir que cor de pulseira o paciente deve receber seja uma pessoa ágil, que se comunica com facilidade com os pacientes e que tenha uma boa ética profissional. Ele também precisa ter o conhecimento clínico necessário para fazer as avaliações. A qualidade do profissional da triagem é essencial para que não ocorram erros de diagnóstico.

Há também muitas análises sobre adaptações feitas no protocolo para garantir que ele se adapte a casos específicos, por exemplo, em hospitais pediátricos. Vale a pena pesquisar a aplicação do protocolo em clínicas ou hospitais similares ao que você coordena ou no qual você trabalha.

Benefícios do Protocolo de Manchester

Um dos principais benefícios da aplicação do protocolo é tornar a clínica ou hospital mais eficiente, já que o tempo de espera até o atendimento é um fator essencial. A espera pode ser a diferença entre um paciente satisfeito ou não, ou, em casos mais graves, a diferença entre salvar um paciente ou não.

Outra vantagem é que os fluxogramas do Protocolo de Manchester fornecem uma base para a tomada de decisão de enfermeiros recém-treinados, com parâmetros bem definidos.

Os benefícios para o paciente são receber uma previsão média do tempo de espera até o atendimento e a garantia da oferta de um serviço homogêneo, baseado em conceitos científicos, que, independentemente do plantonista, dia da semana ou mesmo da instituição de saúde, fornecerão o mesmo atendimento. O fato do sistema se basear no princípio de que os quadros mais graves devem ser atendidos antes, em geral, gera empatia nos pacientes.

Gostou da nossa apresentação do Protocolo de Manchester? Conheça outras maneiras de melhorar o atendimento aos pacientes e de otimizar a gestão de clínicas médicas.

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